Uma das funções da escola é treinar a criatura para existir no espaço público, com respeito ao próximo. Esse espaço é ponto de encontro de diferentes que podem ser reconhecidos, denominados agrupados, mas não é o lugar de apreciação das particularidades. A natureza fornece ao ser humano algumas diferenças visíveis. A criança se apresenta como tal, o idoso tem suas características reconhecíveis e assim por diante. Nos povos que não usam roupas, as diferenças de gênero são visíveis também. Entre os que não se desnudam, a roupa comunica o que encobre.
Mas a humanidade não se compõe apenas das diferenças somáticas. A genética e a vida de cada um com as experiências individuais vão dando forma a indivíduos diferentes entre si. A apresentação pública das diferenças obedece a regras especiais de cada grupo, tribo, classe, religião e cultura. Cabe à escola, espaço privilegiado, protegido, treinar para essa vida pública onde nem todos os desejos podem ser expressados a qualquer momento. Ruídos do corpo sofrem repressões, desde o grito até o sussurro (não é adequado uma professora sussurrar porque os alunos não escutam). Na escola, aprendemos não só o que temos que dissimular, mas também como treinar para dissimular com o mínimo de sofrimento pessoal.
Por estarem os alunos entre seus pares de mesma idade, protegidos pelo espaço do ano letivo, podem experimentar erros e acertos. Para alguns, ficarem quietos, ouvindo horas a fio, não é muito penoso; para outros, é insuportável. Muito embora sejam todos aparentemente tão iguais entre si ... Para alguns, treinar, repetir, refazer, é medianamente chato; para outros, quase insuportável. Se dois irmãos podem ser tão diferentes entre si, apesar de uma carga genética parecida, imagine quão grandes são as diferenças entre alunos de uma mesma classe! Mas assim é o mundo.
No lar, as diferenças são mais bem toleradas, graças a vínculos afetivos e culturais. Mas é aí mesmo no lar que se inicia o treinamento para dissimular as diferenças, a fim de tornar a interação, a presença de todos juntos, suportável, quando não é agradável.
Como a escola é o primeiro espaço público de uma criança na atualidade, é lá que ela tem que aprender contenção, ordem, no limite do respeito ao coletivo. Quando essas funções não são atingidas a contento, a aprendizagem do material curricular fica prejudicada.
Resumindo em uma frase: se não houver disciplina, a aprendizagem de todos está prejudicada. E disciplina não é mudar o temperamento, a personalidade, o jeito de ser de ninguém: é apenas absorver um código e se comportar de acordo comele para fazer o coletivo possível.
Texto de Anna Verônica Mautner originalmente publicado na revista Profissão Mestre de novembro de 2009
Lisa Souza
2 comentários:
Oi Lisa... Estava com saudades dos seu post...
a vida da escola e mesmo corrida!
A disciplina e fundamental p a aprendizagem. No final ficam muitas coisas a cargo da escola (disciplina, valores, questoes de educacao familiar) e a aprendizagem se deixar fica p ultimo plano... e isto nao podeeeee...
Bjs e otima semana.
P.s. Estou sem acentos...tststs
É isso mesmo Lisa! A cada dia que passa, tem se tornado mais complicada a questão disciplinar nas Escolas(sejam elas,Públicas ou Privadas).Penso que esta dificuldade vem aumentando principalmente pelo fato,de não estar havendo aquela tão necessária "Educação doméstica!" Algumas Famílias, atribuem às Escolas a função de Educar e Disciplinar os "Seus Filhos!" Quando estes,já deveriam chegar ao Espaço Educacional prontos!
Sem a tão famosa"Dobradinha": Família e Escola,o que era para ser Felicidade,transformou-se em Caos!
Beijos da Amiga Reijane Passos.
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